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Momentos Antes de Morrer: O Avião

Desde o momento em que entrei no aeroporto, uma sensação de inquietação me acompanhava. Não era apenas o nervosismo habitual de voar; era algo mais profundo, mais visceral. Um aperto no peito, como se algo estivesse errado, mas eu não sabia o quê. Meu coração estava acelerado, martelando no peito como um tambor de guerra, e gotas de suor escorriam pela minha testa, frias e pegajosas. Meu estômago se revirava, enjoado, como se algo dentro de mim soubesse que eu não deveria estar ali.

Tentei afastar esses pensamentos enquanto caminhava até o portão de embarque. “É só ansiedade”, dizia a mim mesmo, tentando me convencer de que tudo estava bem. Mas a sensação de que algo terrível estava prestes a acontecer não desaparecia.

Ao embarcar no avião, aquela angústia persistente só piorou. Sentei-me no meu assento, tentando me distrair, dei um sorriso nervoso para a mulher ao lado e sua pequena filha, que segurava uma boneca com força. Elas pareciam tão despreocupadas, tão inocentes. O avião decolou, e eu respirei fundo, tentando acalmar minha mente.

Eu estava exausto, tanto física quanto emocionalmente. Contra todas as expectativas, acabei adormecendo, mesmo com aquela inquietação ainda presente. Meu corpo sucumbiu ao cansaço, mas minha mente continuava inquieta, assombrada por pressentimentos sombrios.

Acordei de repente, arrancado de um pesadelo sombrio, mas o verdadeiro pesadelo estava apenas começando. Gritos de puro terror ecoavam pela cabine. O avião tremia violentamente, sacudido por uma força invisível e incontrolável. Olhei ao redor e vi o pânico estampado no rosto de cada passageiro. A mulher ao meu lado estava agarrada à filha, seus olhos arregalados de pavor.

Um som ensurdecedor de metal rasgando encheu o ar, seguido por um estrondo colossal. O avião estava sendo dilacerado, pedaço por pedaço. Painéis se desprendiam, bagagens caíam dos compartimentos superiores, e o chão parecia prestes a se desintegrar sob meus pés.

As luzes piscavam descontroladamente, e o ar estava impregnado com o cheiro de combustível e fiação queimada. O terror tomou conta de mim enquanto via a fuselagem do avião se partindo, como se estivesse sendo rasgada por mãos invisíveis. Pessoas gritavam, rezavam, e algumas choravam, enquanto outras estavam congeladas em silêncio, incapazes de processar o horror ao seu redor.

O avião começou a despencar, girando descontroladamente. A força gravitacional puxava tudo e todos para cima, como se estivéssemos sendo sugados para fora. O barulho era ensurdecedor, uma cacofonia de gritos, motores falhando, e o som sinistro do vento rasgando através das brechas da fuselagem.

Olhei para a mulher ao meu lado e sua filha, que agora chorava histericamente. Tentei estender a mão para elas, mas era tarde demais. A fuselagem se rasgou, e em um piscar de olhos, elas foram sugadas para fora do avião, desaparecendo no vazio do céu.

O pânico tomou conta de mim enquanto via mais e mais passageiros sendo arrancados de seus assentos, voando para a morte certa. O avião estava desmoronando ao meu redor, e eu sabia que não havia mais escapatória.

Sentindo o frio cortante do vento e a força implacável da gravidade, segurei-me com todas as minhas forças no braço do assento. Minhas unhas rasgavam o estofado enquanto tentava desesperadamente me agarrar a algo, a qualquer coisa, mas era inútil. A força era esmagadora.

Minha mente ficou em branco por um momento, incapaz de aceitar a realidade. Os sons ao meu redor tornaram-se distantes, como se eu estivesse sendo lentamente engolido pelo vazio. Senti o chão sob meus pés se desfazer, e meu corpo foi lançado para cima, em direção ao caos. Flutuei no ar por um segundo que pareceu uma eternidade, vendo a destruição total ao meu redor.

O frio congelante me envolveu quando finalmente fui sugado para fora do avião. O céu, outrora azul e pacífico, agora era um cenário de puro horror, com destroços e corpos caindo ao meu redor. A Terra se aproximava rapidamente, uma mancha indistinta de cores se aproximando com uma velocidade impossível.

Fechei os olhos, esperando o impacto inevitável, meu coração finalmente em silêncio enquanto a escuridão me envolvia. Não houve tempo para mais nada, apenas um último pensamento de desespero: “Por quê?”

Quando bati no chão, não senti nada. Abri os olhos, esperando o pior, mas tudo parecia normal. O céu estava claro, o ar era fresco, e por um momento, pensei que de alguma forma milagrosa eu havia sobrevivido. Mas então, ouvi o som distante de uma explosão. Virei-me rapidamente e vi, a alguns quilômetros de distância, o avião em chamas caindo do céu.

Meu coração disparou de novo, e sem pensar, comecei a correr em direção aos destroços. Meu único pensamento era tentar ajudar, salvar qualquer vida que ainda pudesse estar presa na destruição. O terror do que estava por vir me impulsionava adiante, como se cada segundo contasse.

Quando finalmente cheguei ao local do impacto, fui recebido por uma visão de puro horror. O avião estava despedaçado, seus fragmentos espalhados por um campo, ainda envoltos em chamas vorazes. O cheiro de combustível queimado misturava-se ao odor penetrante e enjoativo de carne queimada. Meus olhos se fixaram nos corpos, ou no que restava deles. Corpos mutilados, carbonizados além do reconhecimento, espalhados como se fossem nada mais do que brinquedos quebrados em meio aos escombros.

Havia restos de pessoas presas em assentos destroçados, algumas ainda com cintos de segurança, outras espalhadas pelo chão em poses grotescas. Eu mal podia suportar o que estava vendo. Os rostos estavam derretidos, os membros retorcidos, e o horror absoluto da cena me deixou sem fôlego.

Cada passo que eu dava em meio à destruição era um pesadelo vívido.

Em meio ao caos, um sentimento estranho começou a se apoderar de mim. Algo estava errado, mais errado do que eu poderia compreender. Continuei caminhando, meus olhos fixos nos destroços, até que parei abruptamente.

Lá, entre os corpos, algo me chamou a atenção. Um corpo que parecia… familiar. Com o coração na garganta, me aproximei. O rosto estava parcialmente queimado, mas ainda era reconhecível. E o choque de reconhecimento me atingiu como um soco no estômago.

Era eu.

Meu próprio corpo estava ali, entre os destroços, o rosto congelado em uma expressão de terror. Meu peito estava estilhaçado, o coração parado em seu último batimento desesperado. O mundo ao meu redor começou a girar, e uma verdade aterrorizante começou a se formar em minha mente.

Eu nunca havia saído daquele avião. Quando ele começou a cair, o pânico e o medo haviam sido demais para meu coração aguentar. Eu morri de infarto, ali mesmo, no meio do caos, antes que o impacto final acontecesse. E tudo o que eu tinha experimentado desde então não era nada mais do que a última ilusão de uma mente moribunda, tentando desesperadamente se agarrar à vida.

Atordoado pela revelação, me virei para olhar ao redor. E foi então que os vi. Cada um dos passageiros do avião, aqueles que eu pensava ter perdido para a tragédia, estavam lá, mas não como eu esperava. Eles estavam de pé, ao redor dos destroços, olhando para seus próprios corpos sem vida, assim como eu olhava para o meu. No momento, o que senti foi um frio, um frio que não era deste mundo. Foi quando a terrível verdade se revelou: estávamos presos ali, condenados a vagar naquele limbo para sempre.

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