
Tamara estava inconsolável.
Ela compreendia que a morte é inevitável, porém, isso não poderia ter acontecido:
Seu bebê de apenas dois meses morto ? Não era justo…
Desde a morte de seu filho, Tamara encontrava-se em estado de choque, em permanente alerta e totalmente fechada a comentários, visitas , telefonemas.
Recusava-se a falar com as pessoas e não queria ver ninguém.
Apesar de também magoado e abalado pela situação, seu marido decidira não intervir e respeitava a decisão de sua mulher, evitando contrariá-la ainda mais.
Tamara passa seus dias cuidando do quarto de seu filho.
Ajeita o berço, lava as roupinhas, organiza as fraldas e brinquedos, mantendo o quarto impecável e intacto.
Enquanto cuida do bem-estar de seu bebê, ela sempre ouve uma música suave, delicada, um som que a aproxima de seu querido filho e a motiva a cuidar de todos os detalhes que farão a alegria e trarão o bem-estar ao seu precioso ser.
Quando não está ocupada com essas tarefas relacionadas à criança, Tamara costuma preparar mamadeiras, papinhas e comidinhas deliciosas, além de bolos e sucos que serão destinados à alimentação de seu pequeno filho, tão amado por sua mãe.
Seu marido trabalha e encontra-se fora o dia inteiro. Quando volta à noite, conversa com Tamara sobre o seu dia, evitando mencionar o bebê.
Duas horas da manhã de uma noite particularmente quente.
O marido de Tamara acorda, perturbado pelo intenso calor tropical e percebe que sua esposa não está deitada ao seu lado.
Levanta-se para procurá-la e ouve um som de risadas vindo do quarto da criança.
Aproxima-se e para diante da porta. O som que vem de dentro do quarto é o da voz de Tamara, rindo e dizendo coisas em uma voz infantil, cantando canções de ninar e chamando o nome do bebê com carinho e afeto.
O homem abre lentamente a porta do quarto e depara com Tamara sentada numa cadeira de balanço de costas para a porta de entrada do quarto da criança.
Ela ri e diverte-se, segurando um xale bordado em volta dos braços. Não percebe a presença de seu marido, que continua intrigado com aquela situação.
Ainda sem notar que o marido a observa, Tamara vira-se para pegar um brinquedo que está sobre a cama.
Nesse movimento, o marido, horrorizado, descobre que a mulher segura um corpo infantil totalmente deformado, inerte. Tamara acalenta o cadáver de seu filho.

